Já aconteceu com você de notar algo fora do lugar e, de repente, perceber que há outra coisa fora do lugar, e depois outra, e mais outra?
Recentemente, passei por essa situação com a área de trabalho do meu computador. Um dia, deixei um arquivo qualquer “só por ali”, quando me dei conta, estava cheia de outros arquivos e a bagunça tomou conta de tudo.
Esse episódio me fez lembrar da Teoria das Janelas Quebradas, um conceito que vai além da criminologia e se infiltra em nosso dia a dia, inclusive no desenvolvimento de software. Mas antes de mergulharmos nesse universo de códigos e bugs, vamos entender melhor essa teoria.
A Teoria das Janelas Quebradas
Você já ouviu falar na Teoria das Janelas Quebradas? É um conceito de criminologia publicado em 1982 no livro “Fixing Broken Windows: Restoring Order and Reducing Crime in Our Communities” pelo cientista político James Q. Wilson e pelo psicólogo George L. Kelling.
A teoria propõe que ambientes desorganizados e negligenciados, como um prédio com janelas quebradas, transmitem a mensagem de que ninguém se importa com aquele local e que a desordem é permitida. Essa negligência, por sua vez, abre as portas para o crime e a deterioração social.
Um experimento frequentemente associado a essa teoria foi realizado em 1969. O psicólogo Philip Zimbardo abandonou dois carros idênticos em bairros distintos: um em Palo Alto, Califórnia, e outro no Bronx, Nova York. No Bronx, o carro foi rapidamente vandalizado. Já em Palo Alto, o carro permaneceu intacto por uma semana. Mas quando Zimbardo quebrou uma das janelas do carro, ele foi rapidamente vandalizado também.
O experimento assim como a Teoria das Janelas Quebradas reforça que a desordem gera mais desordem e negligenciar pequenos problemas pode ter consequências graves.
As “Janelas Quebradas” no Desenvolvimento de Software
Antes de seguirmos juntes, quero te fazer uma pergunta: você consegue traçar algum paralelo entre a teoria e algum aspecto da sua vida?
No mundo do software, as “janelas quebradas” podem ser bugs, redundâncias, inconsistências que desafiam a lógica ou, até mesmo, “code smells” (aqueles trechos de código que indicam problemas futuros).
E quais as consequências de acumular janelas quebradas? Uma enxurrada de problemas, onde a qualidade do software despenca, os bugs se multiplicam e a produtividade, coitada, se despede em prantos. E o pior: o projeto é arrastado para o fracasso e um ciclo vicioso se cria:
Código mal cuidado
O código se torna desorganizado e difícil de entender, o que leva a mais bugs e retrabalho.
Falta de qualidade
A qualidade do software diminui, e como ela não é mais uma prioridade, os códigos se tornam confusos, sem documentação ou sequer testes adequados.
Produtividade em queda
Pessoas desenvolvedoras gastam tempo desvendando a bagunça do código, em vez de criar novas funcionalidades.
Cultura do “deixa pra lá”
A equipe se acostuma com a desordem e perde a motivação para escrever código de qualidade, pois ao acumular janelas quebradas, a equipe pode ser levada a pensar que se o código já está ruim, não há necessidade para se esforçar e escrever um código bom.
Mas nem tudo está perdido! Assim como organizei minha área de trabalho e coloquei cada coisa no seu devido lugar, podemos adotar práticas para evitar que as “janelas quebradas” tomem conta do nosso software.
Quebrando o ciclo: como evitar as “Janelas Quebradas” no Software
Para evitar que o seu projeto de software se transforme em um prédio com janelas quebradas, algumas medidas podem ser tomadas:
Mantenha a comunicação
Parece simples, mas é crucial. Incentive a comunicação entre os membros da equipe, criando um ambiente onde todes se sintam à vontade para apontar problemas e sugerir soluções. Uma boa comunicação evita mal-entendidos e inconsistências no código.
Defina padrões
Defina e siga padrões de codificação para garantir que o código seja consistente, legível e fácil de manter. Mas lembre-se: tão importante quanto definir padrões é segui-los.
Proatividade e responsabilidade
Qualidade e manutenção do código são aspectos que devem ser considerados em todo o ciclo de vida do projeto. Portanto, incentive a equipe a ser proativa na identificação e resolução de problemas. A responsabilidade pela qualidade do código deve ser compartilhada por todos.
Melhoria contínua
Pratique refatoração, revisão de código e testes regularmente para garantir que o código esteja sempre evoluindo e livre de “janelas quebradas”.
Arquitetura de software
Planeje a arquitetura do software com cuidado para evitar complexidade desnecessária e gambiarras no código.
Um Software limpo, um futuro tranquilo
A Teoria das Janelas Quebradas nos ensina que a desordem gera mais desordem, e que pequenos problemas podem ter grandes consequências. No desenvolvimento de software, isso significa que manter um código organizado, limpo e que segue padrões é fundamental para evitar o caos e garantir a qualidade do projeto.
Lembre-se: cada “janela quebrada” consertada é um passo em direção a um software mais robusto, escalável e sustentável. E um software assim significa um futuro mais tranquilo para você, sua equipe e suas pessoas usuárias. Assim, a bagunça dá lugar à ordem, o caos à harmonia e a frustração à satisfação de um trabalho bem feito.
E aí, já conhecia essa teoria? Já experimentou essas práticas no seu dia a dia?
Artigo escrito por Nadine Schneider, da Comunidade PrograMaria.