Confiança é uma via de mão dupla, é construída no dia a dia, é estar vulnerável e pedir ajuda. Saiba como construir confiança no seu time e como essa relação só traz bons resultados
Eis a definição de confiança, de acordo com o Dicionário Michaelis:
Credibilidade ou conceito positivo que se tem a respeito de alguém ou de algo; crédito, segurança.
Ao receber o tema proposto para o artigo, comecei a refletir sobre esse significado da palavra confiança e a relação direta com a outra pessoa envolvida, pois é ela quem irá confiar algo a você.
Após essa reflexão, eu entendi que antes de escrever sobre como conquistar a confiança de alguém, precisava entender com as pessoas que já havia liderado tecnicamente quais foram as atitudes e comportamentos que conquistaram a confiança do time.
“Uma equipe não é um grupo de pessoas que trabalham juntas. Uma equipe é um grupo de pessoas que confiam umas nas outras.” (Simon Sinek)
Irei compartilhar com vocês os principais pontos que surgiram e que serão úteis para qualquer time técnico que vocês liderarem.
Confiar nas pessoas
“No fim, sempre rolou muita reciprocidade. Sempre senti uma liderança que confiava no time e incentivava ao máximo a autonomia e a liberdade com responsabilidade.” (Relato de pessoa liderada)
Confiança é uma via de mão dupla e, para que o seu time confie em você, é essencial que você confie nas pessoas do seu time.
Gif de ginastas segurando sua colega para ilustrar o conceito de confiança
Isso significa dar autonomia e liberdade para que as pessoas possam experimentar, acertar e errar. O desafio aqui é conseguir compreender que você não consegue controlar o todo e que as pessoas que trabalham com você precisam da sua confiança para se sentirem confortáveis em pedir sua ajuda quando necessário.
Confiança também não é construída de um dia para o outro. Por isso, precisa ser praticada continuamente e intencionalmente.
Abaixo, listo algumas atitudes que você pode aplicar no seu dia a dia que irão contribuir para que as pessoas percebam que você confia nelas:
– Conheça os membros do seu time e entenda quem eles são além do trabalho;
– Delegue tarefas para as pessoas e esteja por perto para acompanhá-las e apoiá-las;
– Demonstre abertura a feedbacks e pergunte intencionalmente sobre o seu trabalho como liderança técnica;
– Estimule a diversidade de opiniões e crie um ambiente seguro para que as pessoas compartilhem o que pensam.
É através da confiança que a postura de assumir a responsabilidade (ownership) é adotada pelo time. Quando sentem que a liderança confia nelas e no trabalho que fazem, as pessoas passam a ter vontade de contribuir e participar ativamente das iniciativas e atividades.
“É trabalho da liderança ágil criar um ambiente no qual pessoas e equipes cresçam, trabalhem juntas, riam, conquistem confiança e sintam orgulho das coisas que fazem para seus clientes.” (Peter Koning)
Escutar ativamente
Quantas vezes nós escutamos o que as pessoas falam já pensando em uma resposta? Esse comportamento é completamente comum, pois fomos criadas para agir dessa forma.
Para conseguir a confiança das pessoas, precisamos sair desse modus operandi e realmente escutá-las. Devemos nos concentrar no que está sendo dito e refletir sobre as motivações do que está sendo compartilhado e sobre qual a mensagem que elas estão querendo nos passar.
Ilustração de duas pessoas conversando
Quando você escuta ativamente o que as pessoas estão dizendo, você está demonstrando que se importa com a opinião delas e que valoriza o que elas têm a dizer.
Você pode praticar a escuta ativa no dia a dia do time ao:
– ouvir sem fazer julgamentos;
– deixar a pessoa falar sem fazer interrupções;
– validar o entendimento do que foi dito;
– incentivar que todas as pessoas do time compartilhem suas opiniões;
– fazer mais perguntas.
Escutar ativamente não significa deixar de expressar suas opiniões e contribuições para as conversas. Mas o foco está muito mais em conseguir compreender e acolher a mensagem antes de dar uma resposta.
Focar nas necessidades do time
Quando cheguei no primeiro time que iria atuar como liderança técnica, estávamos em um momento bem delicado — vivíamos para apagar incêndios, com muitos tickets de suporte e sem espaço para aprendizado. A consequência desse cenário era que o time estava desmotivado e a produtividade baixa.
Nesse momento, eu tinha duas opções: a primeira era começar a colocar a mão na massa e aumentar a produtividade do time; a segunda, entender com as pessoas quais eram as suas principais dores e como eu poderia apoiá-las.
Comecei a mapear as principais causas da desmotivação e da baixa produtividade, e atuei nestes pontos — o que significou, em vários momentos, puxar as tarefas “chatas“ para mim, para que as demais pessoas do time tivessem tempo para trabalhar no que era prioridade e entregar valor para as nossas clientes.
“A liderança segurava muito as pontas para que o time conseguisse entregar as prioridades, inclusive resolvendo muitos tickets chatos.” (Relato de pessoa liderada)
O resultado foi muito positivo e o time teve mais tempo para focar nas entregas. Com isso, resolvemos problemas de resiliência que estavam pendentes há meses, colocamos em produção funcionalidades importantes para as nossas clientes e — o mais importante, a meu ver — as pessoas passaram a estar motivadas e felizes com o seu trabalho.
Ilustração de pessoas resolvendo problema em conjunto
Além de atuar nessas tarefas que estavam tomando tempo e carga cognitiva do time, melhorei alguns processos e eliminei rotinas que não agregavam valor para a equipe ou para as nossas clientes. Assim, conseguimos chegar em um momento em que essas rotinas voltaram para o dia a dia do time sem impactar as prioridades.
Com isso, quero mostrar que o seu foco como liderança técnica deve ser fazer o que for necessário para garantir o sucesso da equipe. Em alguns casos, isso significa seguir o plano; em outros, adaptar o planejamento e redirecionar esforços.
“Lideranças são aquelas que estão dispostas a abrir mão de algo próprio por nós. Seu tempo, sua energia, seu dinheiro, talvez até a comida do prato. Quando importa, as lideranças escolhem comer por último.” (Simon Sinek)
Por fim, confiar nas outras pessoas é estar vulnerável a se expor, pedir ajuda, demonstrar fraqueza — e isso exige muita coragem. No momento em que uma relação de confiança é estabelecida, os resultados são refletidos nas entregas, na produtividade e na motivação das pessoas.
Conquistar a confiança de um time técnico exige ir além da tecnologia, pois a resposta para essa pergunta está nas pessoas e na forma como você irá se relacionar com elas.
Referências
– Livro Líderes se servem por último: Como construir equipes seguras e confiantes, de Simon Sinek
– Livro Os 5 desafios das equipes: Uma história sobre liderança, de Patrick Lencioni
– Livro Agile Leadership Toolkit: Learning to Thrive with Self-Managing Teams, de Peter Koning
– Livro Empatia Assertiva, de Kim Scott
– Vídeo Trust your teams, de Simon Sinek
– Vídeo O poder da vulnerabilidade, de Brene Brown
Autora Inajara Leppa atualmente está como Tech Lead na Pipo Saúde e atua na área de tecnologia há mais de 10 anos. Nos últimos anos, direcionou sua carreira para a gestão de pessoas e projetos em times de engenharia, além de se envolver ativamente em iniciativas de diversidade e inclusão dentro e fora das empresas que trabalha. Revisora Stephanie Kim Abe é jornalista, formada pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Trabalha na área de Educação e no terceiro setor. Esteve nos primórdios da Programaria, mas testou as águas da programação e achou que não era a sua praia. Mas isso foi antes do curso Eu Programo…
Este conteúdo faz parte da PrograMaria Sprint Tech Leads.
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Conquistar a confiança do time é fundamental para o sucessos dos projetos e o fortalecimento das equipes. Muito boa a trajetória da Inajara e a reflexão de que em alguns momentos as lideranças precisam puxar as tarefas “chatas“ para si, para que as demais pessoas do time tenham tempo para trabalhar no que é prioridade e entregar valor para os clientes. Parabéns pelo belo artigo!