Ao falar em design, diferentes perspectivas vêm à mente. Na maioria das vezes, considera-se apenas o aspecto visual e estético, remetendo a logotipos, moda, decoração, entre outros. Muitas pessoas chegam a pensar que design é algo exclusivo para quem é naturalmente criativo, incapazes de executá-lo com eficácia. Contudo, a verdade é que design não se limita à estética ou à arte, e nem flui repentinamente como muitos imaginam. Afinal, o que é design?

A definição de design pode ser tão complexa que vem sendo estudada ao longo de muitos anos. Aprecio a definição dada por Bruce Mau em Massive Change (2004): “Design é a capacidade humana de planejar e produzir resultados desejados”. Toda ideia surge de um processo, e não se engane, há muitas técnicas e ferramentas que podem facilitar todo esse planejamento.

Por detrás do belo, há um processo. Vamos aprender um pouco sobre algumas técnicas usadas no processo de criação dos aplicativos para o público infantil.

Desenvolvimento

Ao se deparar com aplicativos para adultos, mesmo os mais modernizados, percebemos que as interfaces são mais padronizadas, com elementos estáticos e pouca variação na organização, navegação e agrupamento dos elementos.

Por outro lado, os aplicativos infantis apresentam diferenças significativas. As interfaces têm mais identidade, parecem mais artísticas, e a navegação é mais estimulante, com uma organização dinâmica dos elementos.

Embora pareçam “despadronizadas” em comparação com os aplicativos para adultos, é crucial manter os princípios e boas práticas do design ao projetar interfaces para crianças. Vejamos alguns pontos importantes a serem considerados.

Considere a faixa etária

Conheça seu público-alvo. As crianças têm diferentes habilidades e interesses em cada faixa etária. Para manter a usabilidade e a intuitividade, é indispensável levar em conta a faixa etária.

Crianças entre 2 e 4 anos: estão desenvolvendo habilidades cognitivas e motoras, por isso invista em ícones, imagens e elementos grandes para facilitar a interação. Use animações para tornar a interface mais intuitiva e forneça feedbacks frequentes acompanhados de áudio.

Crianças entre 5 e 7 anos: estão começando a ler e compreender textos simples. Proponha desafios progressivos e recompense-os com adesivos virtuais, pontos etc. Utilize narrativas e personagens para engajar, como um mascote que possa ser usado em tutoriais de boas-vindas.

Crianças entre 8 e 10 anos: incentive-as com problemas que requerem pensamento crítico, como completar missões ou resolver quebra-cabeças. Nessa faixa etária, já podem compreender menus complexos e configurações simples. Inclua interações sociais, como compartilhamentos ou mensagens pré-formatadas.

Crianças entre 11 e 13 anos: engajam-se com atividades que exigem habilidades especializadas, como programação básica, matemática e estudo de idiomas. Jogos com missões complexas e competição também são atraentes, mas a atenção especial deve ser dada à segurança nas interações sociais.

Segurança e Privacidade

A segurança é crucial ao desenvolver aplicativos para crianças. Além de evitar penalidades legais, entender as diretrizes de segurança e privacidade ajuda a proteger os pequenos de pessoas mal-intencionadas. As principais diretrizes incluem:

Consentimento dos pais: mecanismos apropriados para que os pais registrem seu consentimento sobre as informações coletadas e permissões concedidas, incluindo pagamentos e uso de informações de identidade.

Tratamento e Coleta de Dados: colete apenas o necessário e informe claramente o motivo da coleta de dados sensíveis, como crenças, etnia e saúde. Os pais devem poder acessar, corrigir e excluir esses dados.

Medidas de Segurança: garantir que os dados coletados não sejam roubados ou usados de forma inadequada. Adote medidas de segurança durante todo o processo de planejamento e desenvolvimento, formalizando uma política de privacidade clara e objetiva.

Acessibilidade

Trabalhar a acessibilidade nos aplicativos infantis garante que todas as crianças, independentemente de suas capacidades físicas e cognitivas, possam aproveitar e se beneficiar do ambiente digital. Aqui estão algumas dicas para incorporar acessibilidade no design:

Deficiências Visuais: use textos com fontes grandes e legíveis, alto contraste entre cores, e permita controles com dispositivos alternativos, como o teclado.

Deficiências Motoras: utilize botões grandes e acessíveis.

Dificuldades de leitura e aprendizagem: insira narrações de texto e imagens em áudio, bem como efeitos sonoros, e permita o uso de leitores de tela.

Dificuldades Auditivas: insira transcrições para conteúdos de áudio e sinais visuais para feedback.

Dificuldades Cognitivas: simplifique tarefas grandes em menores, use sinais visuais e permita salvar configurações personalizadas de acessibilidade.

Realize testes de usabilidade para identificar e eliminar quaisquer que sejam as barreiras.

Construindo uma Tela Inicial

Para adicionar um pouco de prática ao que aprendemos, vamos construir a tela inicial de um aplicativo cujo objetivo é ajudar crianças a aprender sobre música e sons de instrumentos musicais. Consideremos a persona:

Nome: Emanuelle

Idade: 4 anos

Nível Estudantil: Infantil IV

Características: gosta muito de jogar no smartphone, assistir no Youtube e brincar de boneca.

Configurações de Áudio: reduzimos o tamanho do ícone de configurações e o tiramos da área principal onde Emanuelle irá interagir, pois deve ser acessado pelos pais.

Botão Principal: utilizaremos um botão central, grande e com destaque, em vez de “Jogar” ou “Iniciar”, considerando que Emanuelle ainda não tem habilidades de leitura.

Animações e Cores Vibrantes: utilizaremos pequenas animações e cores vibrantes para engajar nossa pessoa usuária, com cuidado para usar a cor mais viva no botão principal e menos saturadas no fundo, garantindo um bom contraste.

Conclusão

Design infantil envolve mais do que estética; é um processo cuidadoso que leva em conta a usabilidade, segurança, privacidade e acessibilidade, adaptando-se às necessidades e habilidades das crianças em diferentes faixas etárias.

Com as técnicas e práticas adequadas, é possível criar aplicativos que sejam não apenas atraentes, mas também educativos e seguros para nossos pequenos nativos digitais.

Artigo escrito por Kellyane Nogueira, da Comunidade PrograMaria.

REFERÊNCIAS

Joan Ganz Cooney Center: https://joanganzcooneycenter.org

Nielsen Norman Group: https://www.nngroup.com/articles/kids-cognition/

COPPA: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/lei-americana-protege-dados-de-criancas-na-internet/100271628#

ECA: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-privacidade-voltada-ao-eca-estatuto-da-crianca-e-adolescente/1869450027

LGPD: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709compilado.htm

W3C: https://www.w3.org/Translations/WCAG20-pt-PT/

Artes gratuitas: www.freepik.com