Se você, assim como eu, já trabalha com tecnologia há mais de 15 anos, deve ter notado a grande evolução pela qual a área da Qualidade passou. Digo evolução porque acredito que, em geral, as mudanças foram benéficas.

Neste artigo, quero discutir justamente essas transformações e, mais especificamente, o que nos levou à criação de papéis como o da pessoa arquiteta de QA, quais habilidades ela possui e como pode contribuir com o time em um ambiente cada vez mais ágil e automatizado. Vamos lá?

Uma breve história

Antes dos anos 2000, a área de qualidade era muito conceitual e manual. O perfil das pessoas que trabalhavam na área também era bem diferente. Geralmente, eram formadas em áreas relacionadas à computação, mas não gostavam de programar, ou até mesmo eram pessoas vindas das áreas de negócio que possuíam um profundo conhecimento das suas regras.

Aos poucos, ferramentas e frameworks de automação de testes começaram a surgir e exigiu-se cada vez mais conhecimento técnico. Chegamos em 2024 e a pessoa que trabalha com qualidade de software precisa ter não só um bom domínio dos conceitos empregados na área, mas também saber usar e, mais importante, se adaptar às novas linguagens e frameworks disponíveis no mercado diariamente.

Na imagem abaixo, apresento uma breve linha do tempo com as ferramentas e frameworks mais importantes da área de QA.

Figura 1 – Evolução das ferramentas de teste de software (1980-2020)

Mas, afinal, quem é a pessoa arquiteta de QA?

Nesse contexto ágil e mais técnico, surgiram diferentes papéis. Um importante e não tão conhecido, como mostrado na enquete abaixo realizada no meu LinkedIn, é o da pessoa arquiteta de QA.

Figura 2 – Enquete realizada no LinkedIn sobre a função da arquiteta(o) de QA.

Ao analisar mais profundamente quais funções a pessoa arquiteta de QA desempenha, nos deparamos constantemente com termos como: experiente, aprofundado, sólidoetc. Isso evidencia que se trata de uma profissional com alta senioridade.

Alguém que dialoga com o time técnico e com o time de produto, precisando, portanto, possuir não apenas habilidades técnicas, mas também habilidades interpessoais relacionadas à comunicação, aprendizado contínuo e liderança.

Ela deve assegurar que os processos e práticas de qualidade formem uma base robusta para o desenvolvimento do software; é como uma ponte entre o mundo técnico e o mundo de negócios, que sabe como utilizar linguagens diferentes e adequadas a contextos diferentes.

É possível verificar nas descrições das vagas exibidas abaixo todos os pontos mencionados anteriormente.

Figura 3 – Então, o que vou fazer? Liderar a implementação de abordagens de testes apropriadas para projetos de pequeno e médio-porte

Figura 4 – Comunicação fenomenal. Foco em solucionar problemas com o desejo e a capacidade de criar soluções inovadoras. Sólida base em ciência da computação.

Figura 5 – Habilidades essenciais para uma Arquiteta de QA Sênior: Compreensão profunda dos princípios de teste de software. Experiência extensa com frameworks de automação de testes.Motivação para melhorar e continuar aprendendo.

Principais habilidades técnicas

Domínio de conhecimentos conceituais de QA:

  • Conhecimento profundo das fases do ciclo de vida do teste (SDLC);
  • Experiência com técnicas de design de teste (particionamento de equivalência, análise de valor limite, estado-transição);
  • Profundo entendimento dos tipos de teste: testes funcionais, não funcionais, regressão, caixa-preta, caixa-branca etc.;
  • Compreensão de métodos ágeis e tradicionais de QA (Cascata, Scrum, Kanban).

Experiência com diferentes ferramentas de integração contínua:

  • Conhecimento amplo na configuração de pipelines de CI/CD com ferramentas como Jenkins, GitLab CI, CircleCI etc.;
  • Habilidade no monitoramento e diagnóstico de falhas através de dashboards e logs de CI/CD.

Domínio de automação de testes:

  • Automação de testes funcionais e não funcionais;
  • Desenvolvimento de frameworks de automação utilizando ferramentas como Selenium, Cypress, Appium, JUnit etc.

Principais habilidades Interpessoais

Adaptabilidade:

  • Capacidade de ajustar estratégias de QA para atender às necessidades de equipes distribuídas em diferentes fusos horários e com diferentes culturas;
  • Flexibilidade para lidar com diferentes culturas, abordagens e metodologias de trabalho;Adaptação rápida a novas ferramentas e linguagens;
  • Resiliência ao lidar com mudanças frequentes nos requisitos e prioridades dos projetos.

Comunicação:

  • Habilidade em comunicar claramente questões técnicas e não técnicas para diferentes públicos-alvo;
  • Documentação e compartilhamento de conhecimento sobre processos de QA de maneira clara e acessível para equipes multidisciplinares.

Aprendizado contínuo:

  • Participação ativa em comunidades de QA;
  • Busca constante por novas certificações e metodologias de teste (ex. ISTQB, certificações DevOps);
  • Manutenção de um ambiente de aprendizado e troca de conhecimento dentro do time, incentivando a equipe a sempre se atualizar.

Liderança:

  • Capacidade de liderar equipes distribuídas, assegurando a colaboração e a entrega de resultados consistentes de qualidade;
  • Influência na tomada de decisões estratégicas em relação à qualidade;
  • Promoção de uma cultura de qualidade em toda a organização.

Arquiteta de QA x Líder Técnica x Arquiteta de Software

Com a evolução da tecnologia, surgiram cada vez mais novos cargos, e uma grande sopa de letrinhas foi criada. Antigamente, tínhamos a pessoa Analista de QA ou Testadora. Hoje, temos inúmeras e diferentes nomenclaturas.

Trago na tabela abaixo uma  simples comparação entre os 3 papéis que acredito que possam gerar alguma confusão para quem pretende seguir um destes caminhos.

Tabela 1 – Comparação entre Arquiteta de QA, Líder Técnica e Arquiteta de Software em foco, interação e habilidades técnicas principais.

Em resumo, o que podemos observar é que os 3 são papéis mais abrangentes, em que a pessoa precisa desenvolver habilidades complexas, porém com focos diferentes, mas que se relacionam o tempo todo.

Oportunidades

Eu não sei vocês, mas sempre que eu penso no futuro, penso em IAs. Não que seja algo novo, mas é evidente o grande potencial que atingimos agora e que tende a escalar em pouco tempo.

E, logicamente, a primeira dúvida que surge é: a Inteligência Artificial vai me substituir no meu trabalho como arquiteta de QA? Bom, eu acredito que não, mas fui perguntar direto para ela e aqui está o que ela respondeu:

Figura 6 – Discussão com ChatGPT sobre o futuro das Arquitetas de Qualidade.

E aí? Você concorda com ela? Compartilha aqui com a gente a sua opinião!

Artigo escrito por Beatriz Navarro, da Comunidade Programaria.

REFERÊNCIAS:

BREAKING BUG COMMUNITY. Morning Coffee with Experts: QA Architects vs Solution Architects in Test Automation. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xV1k_e4CyNI. Acesso em: 21 out. 2024.

EDUREKA. How to become a Testing Architect | Roadmap for Test Architect | Software Testing. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8SOweKly0Xo&list=WL&index=9. Acesso em: 16 out. 2024.

QACON 2023. The road to QA Architect, let’s talk about responsibilities. Edlly Gómez. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4_2eQ-YGsPc. Acesso em: 15 abr. 2024.

QA DAY 2021. Quality Architect – How to Become a Unicorn. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jmkIZ0Yc5zE&list=WL&index=6. Acesso em: 15 out. 2024.